Ontem, num contexto que não vêm agora ao caso, relembraram-me uma ideologia política que ganhou alguma força nos anos 80 e 90, chamada a terceira via. De uma forma muito simplista, tentava ser uma alternativa ideológica aos blocos dominantes do socialismo soviético e neo-liberalismo americano e que advogava (também de uma forma muito simplista) que no meio das duas ideologias estaria a virtude.
Mas porque raio rompo eu o meu longo silêncio aqui no blogue para vir falar de questões ideológicas?
Quem me acompanha no Twitter sabe que, nos últimos dias, tenho defendido que o que se passou na luz foi, em grande parte, fruto da corrupção que não larga o futebol português há mais de 30 anos. No entanto, apesar de ver que muitos partilham a minha opinião, tenho visto na minha timeline que há também já um número considerável de vozes que responsabilizam JJ e BdC pela derrota e que começam a manifestar a sua desilusão com esta direcção e com os resultados do seu projecto desportivo.
Também notei que, pela primeira vez desde que tenho conta no Twitter, perdi um número significativo de seguidores, facto que não posso deixar de associar às ideias que defendo.
Apesar de inicialmente ter olhado para o BdC com desconfiança, o trabalho que tem vindo a ser desenvolvido quer a nível financeiro quer a nível desportivo tem sido do meu agrado.
A nível financeiro, a não ser que haja algum elefante (bem) escondido, a recuperação é notória e de uma situação de quase falência, avançamos para uma situação tendencialmente estável.
A nível desportivo, se é verdade que ainda não alcançámos o título de campeões nacionais de futebol, já vencemos uma Taça de Portugal e uma Supertaça, o que não acontecia há 6 épocas. Mas, para mim, o maior feito desta direcção, a nível desportivo, tem sido o ressurgimento do Sporting como clube eclético, com apostas fortes em várias modalidades e (re)lançamento de muitas outras. O aumento do nível de competitividade na maioria das modalidades é evidente, sendo de realçar o facto de já terem sido alcançados resultados significativos em termos nacionais e internacionais, por vezes em modalidades que foi preciso recuperar do zero, como foi o caso do Hóquei em Patins.
Ainda assim, aceito que há áreas onde esta direcção tem tido pouco êxito:
1. Não tem sido capaz de destruir a teia de corrupção montada no desporto nacional - Tem tentado, mas temos de reconhecer que com pouco êxito. Consegue agitar a superfície, mas as "estruturas" continuam bem implantadas e parecem até mais sólidas e confortáveis do que nunca;
2. Estratégia de comunicação pouco consistente - É verdade que tem pela frente uma das mais poderosas máquinas de propaganda existentes em Portugal, assente em duas figuras execráveis mas muito eficazes na forma como construíram essa mesma máquina (josé eduardo moniz e joão gabriel), mas convenhamos que pouco mais tem feito do que cócegas na dita. A isto se alia o que parece ser a falta de um rumo e de uma estratégia de comunicação estável. O objectivo não pode ser provocar uns arranhões na máquina. É preciso perceber como ela funciona, quais os seus pilares e como a destruir. E esse caminho não está sequer iniciado. A isso se conjuga uma imagem demasiado presente do BdC, que admito ser um mal necessário, mas onde muita gente não se revê.
O caminho mais fácil para a resolução destes problemas era fazer o mesmo que os lampinos fizeram, ou seja, montar uma estratégia de longo prazo com o objectivo de substituí-los na cabeça deste polvo, mas esse não é o caminho que eu quero, nem me parece ser o caminho que os Sportinguistas querem. Queremos ser os melhores e ganhar, não queremos ganhar a qualquer preço.
Esta é a minha maneira de ver as coisas, mas sinto que há muitos Sportinguistas que não sentem o mesmo. E aqui falo de Sportinguistas sérios, que não são chegados ao croquete nem têm aspirações a isso. Vejo essa insatisfação em muitos deles. Mas a verdade é que, até ao momento, ainda não apareceu uma terceira via no Sporting. E o que seria essa terceira via?
Até ao mandato do BdC e nos 15 anos que o antecederam, o Sporting foi um clube que se centrou demasiado no futebol e que acreditava que o melhor caminho seria o das alianças, seja com lampinos, fruteiros, agentes ou fundos de investimento. O discurso era suave e a postura também, tentando apanhar os restos que caíam da mesa dos seus parceiros de aliança. Pelo meio delapidou-se património e a gestão foi caótica. O Sportinguismo dos dirigentes e mesmo dos presidentes era pouco evidente e assumido. Chamemos a esta via, a croquetista.
Após a chegada de BdC a postura alterou-se 180º. Passámos para a fase do orgulhosamente sós, sem alianças e com os antigos parceiros identificados como inimigos. O estilo é truculento e agressivo. O Sportinguismo dos dirigentes e presidente é claramente assumido. A gestão passou a ser mais séria e transparente, mas a comunicação é feita de forma caótica e a imagem da direcção fora do clube é má. Chamemos a esta via, a carvalhista.
O que eu sinto é que parece haver muitos Sportinguistas que não se revêm em nenhuma destas vias e que se encontram órfãos. Eu não estou nessa situação porque, tal como já disse, aprecio o trabalho que esta direcção tem desenvolvido, mas sinto que falta um candidato sério, que se afaste das linhas croquetistas e carvalhistas. Falta uma terceira via, com um projecto credível para o Sporting, seja a nível desportivo, financeiro e mesmo ideológico. Não me venham com os barreiros, figos, ricciardis ou outros que tais pois, com a linha croquetista, não há grande debate e dificilmente podem ser alternativas ao BdC. O João Benedito poderia ser essa terceira via? Não sei, mas até agora os passos que deu dão a entender que não será.
Mas espero, sinceramente, que essa terceira via apareça. Não quero com isto dizer que seja para votar nela mas, para mim, as eleições servem para debater ideias que ajudem as instituições a crescer e, com esta terceira via, o debate de ideias poderá ser mais aberto e abranger todos aqueles Sportinguistas que não se revêm em nenhumas das alternativas apresentadas até agora.
Saudações Leoninas